ARTISTAS
ANA GOULART
"Meu trabalho reflete a forma como enxergo o mundo, a forma como capto as emoções e intenções e como a arte me proporciona a capacidade de transformação, pois em muitos momentos da vida peço e assim já agradecendo por todo o discernimento, sabedoria, força para sempre que for preciso Renascer, para continuar, pois a vida é para quem continua, cai e levanta.
Neste mundo, é preciso ter coragem para criar, ser inteiro e verdadeiro, transmutar e realizar, emocionar, fazer pensar, parar sem paralisar, para apenas se permitir: se emocionar!"
As artes visuais são um campo de mistérios e de enigmas. Cada criador estabelece seus próprios paradigmas pela maneira como se vale dos recursos plásticos. Nesse sentido, Ana Goulart, nascida em Jundiaí, SP, Brasil, em 1997, traz uma expressão visual caracterizada pelo desenvolvimento de uma técnica própria.
A sua identidade se manifesta nas formas como utiliza a pintura com tinta acrílica e o desenho com nanquim e bico de pena, seja de maneira separada ou em diálogo. A artista apresenta assim uma proposta estética caracterizada pela intensidade do movimento. Ocorre assim uma dinâmica que gera no observador um amor pelas potencialidades do fluir da existência.
As proporções das figuras fogem de um realismo imitativo e mergulham em uma representação muitas vezes impressionista, no diluir das formas, mas também expressionista na utilização de cores quentes. Mais do que propor nomenclaturas, a visualidade proposta instaura contornos em que há fusões intensas e sutis não claramente delineadas.
O encantamento do conjunto se dá, em boa parte, pela presença de jogos visuais em que, por exemplo, quando a linha parece, traz imagens que constroem um mundo paralelo àquele que conhecemos no cotidiano. O êxito da poética da artista se dá, em boa parte, por manter contato com aquilo que costumamos chamar de realidade, mas sem se ater a uma cópia.
A riqueza está no uso das cores, sejam elas mais frias ou quentes, assim como das suas tonalidades, para dar valor plástico aos trabalhos. Isso significa um cuidado e esmero na realização técnica acompanhado de um elo entre o pensar e o fazer. As harmonias construídas ocorrem em boa parte, por estabelecer essas delicadas temperaturas estilísticas.
Trata-se, portanto, de gerar ritmos em que existe um equilíbrio visual pelo estabelecimento de simetrias próprias que são a consequência das relações que a pintura traz entre o mundo interno da criadora visual e o externo do mundo considerado real. Essa dinâmica de elos de dentro para fora e vice-versa valoriza o estilo de Ana Goulart na direção de um diálogo entre desejos e realizações.
Seu processo pictórico coloca na tela uma mescla entre a emoção e a razão. Tem-se tanto o saber fazer, no sentido do domínio de recursos plásticos, como o de pensar aquilo que é feito, o que dá coerência ao conjunto das obras. O fervilhar do criar se dá justamente nos cruzamentos realizados entre essas instâncias.
O processo construtivo da artista, portanto, se fundamenta em gerar um mundo novo. De certa maneira, ela propõe um retalhamento criativo daquilo que se conhece para erguer uma possibilidade visual fundamentada em levar ao observador desconhecidos estranhamentos, ou seja, um mundo encantador que não é uma apresentação literal do que se vê no dia a dia, mas um significativo e intenso estado de espírito do que esteticamente pode vir a existir.
- Oscar D'Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, Jornalista, Crítico de arte e membro da Associação Internacional de Críticos de Art - AICA
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